Uma nova pesquisa, apresentada durante a Reunião de Sociedades Acadêmicas Pediátricas de 2017, sugere que as informações de saúde on-line podem influenciar a confiança dos pais no diagnóstico feito pelo médico da criança, o que pode levar a um atraso no tratamento.
Utilizando a plataforma de pesquisa on-line da Mechanical Turk, os pesquisadores recrutaram 1.374 participantes – todos pais – que foram apresentados a um caso clínico hipotético de uma criança que “teve um enxatema ou rash cutâneo e depois uma piora com febre por 3 dias”. Os participantes, que tinham em média 34 anos de idade e tinham pelo menos um filho com menos de 18 anos, foram então divididos em grupos.
No primeiro grupo, os participantes receberam prints com informações da Internet descrevendo alguns sintomas de escarlatina, uma doença infecciosa ligada à garganta que causa erupção cutânea e febre. A menos que seja tratada com antibióticos, a escarlatina pode provocar febre reumática e, em alguns casos, levar a danos cardíacos.
O segundo grupo de participantes recebeu prints listando sintomas selecionados da doença de Kawasaki, uma condição em que os vasos sanguíneos em todo o corpo se inflamam. Ela também é acompanhada por febre e erupções cutâneas. É necessário tratamento imediato com fármacos anti-inflamatórios para ajudar a prevenir complicações potencialmente fatais, tais como aneurismas.
Um terceiro grupo de pais, o grupo de controle, não recebeu nenhum print com informações da Internet. Todos os participantes leram que o médico havia diagnosticado a criança com escarlatina. Comparado ao grupo controle, em que 81% dos pais relataram confiar no médico, 90% dos pais que haviam recebido os sintomas de escarlatina via Internet relataram confiar no médico. Além disso, um número menor de pais do coorte de escarlatina respondeu que era provável que buscassem uma segunda opinião (21,4%) em comparação com o grupo controle (42,0%).
Por outro lado, apenas 61,3% dos participantes que tinham visto os prints listando erupções cutâneas e febre como sintomas da doença de Kawasaki relataram confiar no diagnóstico dos médicos e 64,2% relataram que eles provavelmente buscariam uma segunda opinião.
A autora principal, Ruth Milanaik, disse que, embora existam muitas vantagens de ter informações médicas facilmente acessíveis na Internet, as conclusões do estudo mostram que “a interpretação dos sintomas baseada na Internet” podem comprometer a confiança entre médico e paciente.
A Internet é uma ferramenta de informação poderosa, mas é limitada pela sua incapacidade de raciocinar e pensar. Simplesmente relacionar uma lista de sintomas num motor de busca pode não refletir a situação médica real de uma pessoa. “Esses ‘diagnósticos gerados por computador’ podem enganar os pacientes ou pais, levá-los a questionar as habilidades dos médicos e a procurar uma segunda opinião, retardando assim o tratamento”, afirma o pediatra e homeopata Moises Chencinski (CRM-SP 36.349).
Para o médico, “pediatras devem incentivar os pais a compartilharem todas as preocupações que têm, para que os profissionais possam fazer um diagnóstico diferenciado. Pais que ainda têm dúvidas devem procurar uma segunda opinião. Mas eles não devem ter medo de discutir o resultado da informação da Internet com o pediatra”, defende Chencinski.