Decorar a casa para esperar o coelhinho, pintar ovos coloridos, comprar chocolates, entoar canções e planejar o almoço de domingo… tudo isso faz parte da Páscoa e, como é prazerosa essa tradição passada de geração a geração. As datas comemorativas são uma maneira de trabalhar a magia, a fantasia, embora hoje muitas famílias optem por não deixar seus filhos acreditar em Papai Noel e Coelhinho da Páscoa, desligando seu imaginário de um mundo repleto de emoções, sensações afetivas e cognitivas. Independente da questão religiosa, o símbolo da data remete às famílias que se preocupam em deixar esse legado tão precioso àqueles que de fato se interessam por ele.
E assim, as memórias ficam… nas reuniões do meu avô com meus pais e tios para decidir se o bacalhau seria na sexta-feira santa ou no domingo de Páscoa, nas sobremesas da minha avó que mal cabiam no prato de porcelana com flores rosas e roxas, filetado de dourado; no papel celofane pink que embalava aquele ovo de chocolate ao leite gigante- sim, como era grande naqueles meus cinco, seis anos-; nas pegadas de amido de milho com água; no bilhete deixado pelo coelhinho escrito com duas canetas, duplicando as letras azuis; nas piadas que meu tio contava durante o almoço e só fui entendê-las após longos anos; no queijo prato em cubinhos regado de azeite e orégano, que dividia a pestisqueira de prata com as azeitonas pretas chilenas nos petiscos antes do tão esperado almoço; nas brincadeiras no quintal com meu avô, no movimento da rua visto pelo lado de dentro do portão branco do meu tamanho, na roseira com espinhos de seu jardim, no programa Silvio Santos que assistia com minha avó até meu pai decidir voltar para casa ao anoitecer.
Tradição… que me acompanha na saudade e nas histórias que conto aos meus filhos sempre que penso neles ou quando combinamos o cardápio da Páscoa, quando corto os cubinhos de queijo prato para o petisco de domingo, quando preparo a bracciola do meu pai, receita da minha avó, mas nunca igual a deles, quando jogamos carta com regras reais e não aquelas inventadas pelo meu avô para eu ganhar, quando molhamos os três dedos juntinhos no amido de milho…
Que venha o domingo, já estamos com as cestinhas prontas para a caça aos ovinhos coloridos, para a euforia da busca pelo ovo gigante, os olhinhos brilhando ao fazer a contagem, as bocas lambuzadas de chocolate, as mãozinhas passeando pelas petisqueiras antes do almoço, as conversas, as risadas… a magia do coelhinho.
Por Marina Gaeta Foto: Divulgação